terça-feira, 7 de setembro de 2010

12 horas

Despertador toca. Os sonhos cessam. Espreguiço-me lentamente, sentindo a suavidade dos lençóis ainda quentes. Cochilo, mas o despertador toca novamente. Depois de me arrumar, tomo café, converso com minha amada mãe e saio de casa. Rotina. A manhã é clara e eu espero o ônibus ouvindo as melhores músicas. Gostaria até de trabalhar um pouco mais longe para poder viajar em pensamentos embalados pelas canções.

Cheguei! Desço do ônibus e faço o mesmo caminho de três semanas, passando por bares, botecos, padarias, prostíbulos, bêbados, trabalhadores. Todos iguais na essência, mas distantes na aparência que carregam nesta vida.

Na segunda esquina em que passei, notei um homem deitado no chão, parecia embriagado, tentando se levantar de mais uma bebedeira. Continuei caminhando e segui o dia normalmente.

Trabalho, trabalho, café, trabalho, cigarro, café, água, monotonia, almoço. Chegou a hora de reabastecer a energia. Comida, vinte e seis opções de salada, quindim docinho, tudo incluso. Banho de sol na esquina, cigarro, conversa sobre trabalho, volta no quarteirão olhando vitrines.

Na volta, passando pela mesma esquina, me surpreendo com o homem, ainda deitado, tentando se levantar, em uma luta travada com a gravidade. “Como pode beber tanto a este ponto?” eu penso inquieta.

Segundo turno, mais trabalho, tudo igual. Indo embora eu avisto um carro de polícia na mesma esquina em que vi o bêbado tentando se levantar. Quando me aproximo levo um choque! O homem estava coberto com um saco preto, já sem vida, na mesma posição em que passou suas últimas horas agonizando.

Chorei revoltada com a falta de humanidade dos que ali passaram, inclusive com a minha. Que mundo é esse, que raça evoluída é essa que deixa um ser humano agonizar em plena luz do dia sem ao menos duvidar que algo de errado está acontecendo?

Não sabemos o que levou uma pessoa a morar na rua, não conhecemos a sua história, que muitas vezes é de abandono, de falta de cuidados e principalmente falta de amor. Aprendi que precisamos nos livrar dos padrões estabelecidos, precisamos enxergar as pessoas tentando entender que caminhos trilharam para chegar onde estão. A compaixão liberta quem a pratica. Pense nisso, siga esta dica.

Um comentário:

  1. Essa história eu conheço... Mas a vida é assim mesmo... Estamos tão acostumados com o óbvio e com a correria do dia-a-dia que não prestamos atenção a um pedido de socorro abafado por esteriótipos...

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